Muitas doenças autoimunes reumatológicas afetam mulheres em idade fértil. Portanto os temas gestação e aleitamento materno assumem uma importância central neste grupo.

Por um lado, pacientes tem dúvidas quanto ao risco envolvido pela gestação. Por outro lado existe o temor de que a doença autoimune possa afetar o bebê. Finalmente existe o fator complicador das medicações utilizadas no tratamento destas doenças.

Em primeiro lugar, é importante entender que nem toda doença reumática implica em maior risco gestacional. As doenças reumáticas são muito diferentes entre si e isto fica bem evidente no que se refere à gestação. Enquanto que a gestação aumenta o risco de recidiva do Lúpus Eritematoso Sistêmico o contrário acontece com a artrite reumatoide que costuma melhorar durante a gestação.  Assim sendo, é essencial que portadoras de doenças reumatológicas autoimunes façam um aconselhamento médico especializado ao programarem uma gestação, e façam um acompanhamento pré-natal multidisciplinar, envolvendo o Reumatologista e o Obstetra.

Este é um tema bem amplo e bastante estudado. De todas as doenças reumáticas, o lúpus é aquela que tem uma interface mais complexa com a gestação e será assunto desta postagem. A doença tipicamente afeta mulheres jovens e a gestação aumenta os riscos envolvidos com a doença.  Isto não significa que portadoras de lúpus não possam engravidar e constituir uma família normal. Apenas indica a necessidade de uma programação adequada e um acompanhamento especializado.

Vamos aqui colocar algumas informações essenciais sobre o tema gestação e lúpus, deixando a relação entre gestação e outras doenças para outras postagens.  Da mesma serão abordados separadamente os temas: aleitamento materno, fertilidade nas doenças reumáticas e lúpus neonatal.

 

Efeito da gestação na doença:

Lúpus tipicamente evolui com períodos de crise (atividade) e períodos ”silenciosos” (remissão). Além disso, a gravidade da doença varia muito de uma pessoa para outra. Portanto portadoras de lúpus grave (particularmente aquelas com envolvimento renal) têm risco aumentado durante a gestação. Além da gestação propriamente dita, o período imediatamente após o parto (puerpério) é um período de maior risco para recidivas da doença. Hoje sabemos que o risco de recidivas é muito menor naquelas pacientes que estavam em remissão nos 6-12 meses anteriores à gestação. A maioria das crises de lúpus que ocorrem durante a gestação são leves e facilmente tratadas, porém crises mais graves podem ocorrer. Um fator que torna este acompanhamento mais complexo é que às vezes é bastante difícil diferenciar sintomas da doença com manifestações normais da própria gravidez como inchaço nas pernas, perda de cabelo, fraqueza e anemia.

 

Efeito da doença na gestação:

Portadoras de Lúpus tem maior risco de complicações obstétricas variadas incluindo pré-eclâmpsia, parto prematuro, diabetes gestacional e envolvimento orgânico.  Novamente, este risco é bem menor nas pacientes com a doença bem controlada antes da gestação.

 

Lúpus e síndrome dos anticorpos antifosfolípídeos (SAF)

A síndrome dos anticorpos é uma condição clínica que pode acontecer isoladamente ou associada a várias doenças reumáticas autoimunes, particularmente o lúpus.   Também será tema de uma postagem futura, mas necessita ser citada aqui, pois, é um dos principais fatores de risco obstétrico em portadoras de lúpus.

Esta síndrome está associada à presença de um grupo de anticorpos que podem ser detectados em exame de sangue. Clinicamente ela está relacionada com maior risco de trombose, perdas fetais. Portanto estes anticorpos devem sempre ser pesquisados na programação e acompanhamento da gestação. A presença desta síndrome adiciona complexidade ao tratamento de mulheres lúpicas gestantes, pois frequentemente envolve a necessidade de tratamento anticoagulante apropriado.

 

Lúpus, Gestação e medicamentos.

Vários medicamentos rotineiramente utilizados no tratamento do lúpus têm implicações importantes na gestação. De todos os medicamentos, a cloroquina é a droga mais amplamente utilizada no tratamento do lúpus.  Hoje sabemos que, não só ela pode ser usada durante a gravidez, como também ela tem um fator protetor contra recidivas durante a gestação.

Casos leves porem ser tratados com aconselhamento médico com anti-inflamatórios e corticosteroides em doses baixas. As formas mais graves da doença têm uma situação mais complexa, pois, podem necessitar doses altas de corticoides e medicações imunossupressoras.  Várias drogas desta categoria são contraindicadas na gestação, portanto, a escolha do tratamento ideal deve ser feita individualmente por uma equipe muito familiarizada com o uso destes medicamentos bem como com lúpus e gestação.

 

PRINCIPAIS MENSAGENS: Planejando a gestação

– Mulheres lúpicas podem engravidar, mas, necessitam planejamento e cuidados especiais.

– Portadoras de lúpus tem maior risco de complicações da doença durante a gestação e no período pós-parto imediato.

– Portadoras de lúpus tem maior risco de complicações gestacionais.

– Acompanhamento de lúpicas desejando engravidar deve ser feito por equipe multidisciplinar e familiarizada com o tema.

– Um aconselhamento pré-gestacional é necessário no sentido de estratificar o risco e definir medicamentos que podem/devem ser utilizados.