A artrite reumatóide (AR) é uma doença autoimune, inflamatória e crônica.

Doenças autoimunes são causadas por uma perda da regulação do sistema imunológico.

É importante não confundir doença autoimune com imunodeficiência.  Pessoas com doenças autoimunes em geral possuem um sistema de defesa contra infecções (sistema imunológico) que funciona bem. Porém o sistema também ataca estruturas do próprio organismo, como se fossem elementos estranhos dos quais deveriam se defender.  No caso da artrite reumatoide o principal tecido que sofre este ataque é um tecido que reveste internamente as articulações, chamado de sinóvia. Em algumas pessoas a AR pode afetar muito mais do que as articulações, incluindo pulmão, olhos, pele e vasos sanguíneos.

 

QUEM É ACOMETIDO?

AR é uma doença comum. Ocorre em todas as populações do mundo afetando de 0,5 a 1% das pessoas.  Mulheres são 3 a 5 vezes mais afetadas do que os homens.

Ao contrário do que se pensa ela pode acometer qualquer idade, mesmo crianças, mas é incomum começar antes dos 15 anos de idade. O mais frequente é que comece em torno dos 40-50 anos de idade.

 

QUAL A CAUSA DA DOENÇA?

A AR tem origem autoimune, mas, sua causa específica ainda não é totalmente conhecida.  O risco de ter AR aumenta com certos traços genéticos, porém é importante entender que a AR não é considerada uma doença hereditária.  A imensa maioria dos portadores de AR não tem pais ou filhos com a doença.   Além dos fatores genéticos fatores ambientais também participam no risco de desenvolver a doença. O fumo é um dos fatores comprovadamente relacionados com maior risco, particularmente em indivíduos geneticamente predispostos.

 

QUAIS SÃO OS SINTOMAS DE AR?

AR causa dor e inchaço das articulações. Em geral o quadro começa com poucas articulações acometidas e evoluí para o acometimento de várias articulações ao mesmo tempo, em particular as pequenas articulações dos dedos das mãos e pés, mas também punhos cotovelos, joelhos, tornozelos e outras.  Fadiga é outro sintoma bastante frequente. Quando a doença está muito ativa podem surgir mal estar e perda de peso.

O quadro mais típico é de sintomas que se iniciam em poucas articulações progredindo com o acometimento de várias outras que ficam dolorosas, inchadas, com calor local e rigidez dos movimentos. Tipicamente a dor e a rigidez são piores após o repouso, e melhoram com a movimentação. Sem tratamento a AR costuma evoluir com deformidades articulares que podem ser bastante incapacitantes.

Menos da metade dos portadores de AR desenvolvem ainda sintomas em outros órgãos como pulmões, pele e olhos.

 

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE AR?

O diagnóstico de AR pode ser complexo, dependendo da análise de vários fatores como a própria história dos sintomas além de achados do exame físico,  exames de sangue e de exames de imagem.  Em outras palavras, o diagnóstico depende de um conhecimento especializado, particularmente no início da doença.

Várias outras formas de artrite bem como outras doenças podem facilmente ser confundidas com AR.

Não existe um teste laboratorial único que confirme este diagnóstico.  Os exames laboratoriais são uma das peças de um “quebra cabeça”, mas o diagnóstico só pode ser confirmado juntando corretamente as demais peças.

Um exame muito citado e fonte de bastante confusão é o Fator Reumatóide.   Este é um exame de grande importância histórica no estudo não só da artrite reumatoide, mas, das doenças autoimunes de uma forma geral. Ainda assim, e apesar do nome fator reumatoide, ele deve ser interpretado com conhecimento técnico. È um teste que pode ser medido com diferentes técnicas que têm significado clínico diferente.  Ele não é um exame positivo em todos os portadores da doença e pode ser positivo em pessoas normais e em inúmeras outras doenças.

 

QUAL A EVOLUÇÃO DA AR E QUANDO TRATAR?

Sem tratamento a AR é uma doença progressiva que pode causar danos irreparáveis já a partir dos primeiros meses de início da doença. Felizmente o tratamento disponível atualmente é altamente eficaz em conter a doença e impedir suas complicações, por isso é essencial iniciar o tratamento de forma precoce.

Neste sentido alguns conceitos importantes:

Chamamos de doença em atividade quando os sintomas estão presentes e podemos detectar a inflamação articular.  A doença é dita em remissão quando estes sintomas estão bem controlados e nenhuma inflamação articular (ou em outros órgãos acometidos) pode ser detectada.

O termo remissão significa que a doença está controlada, mas, como em outras doenças crônicas, isto não significa a cura definitiva da doença.  A remissão definitiva da AR é um evento raro. A maioria dos pacientes precisa de tratamento contínuo.  A boa notícia é que, com os tratamentos atuais, portadores de AR levam uma vida normal como teriam sem a doença.

 

COMO É O TRATAMENTO DA AR?

O tratamento da AR pode envolver vários aspectos além do tratamento medicamentoso.

Neste texto vou falar apenas do tratamento medicamentoso que constitui a base do tratamento da AR pois é este tratamento que tem a capacidade de bloquear a evolução da doença e impedir suas complicações.

Ainda assim fisioterapia, adaptações ocupacionais, correções cirúrgicas, infiltrações e outas modalidades terapêuticas têm uma importante função em casos selecionados, dependendo dos sintomas presentes, dos órgãos acometidos, das deformidades desenvolvidas etc. Igualmente importante, mas ainda bastante controverso, é o papel da dieta na prevenção e tratamento da AR. Estes temas serão abordados em outras postagens

 

Tratamento medicamentoso da AR

Existem duas classes de medicamentos usados no tratamento da AR: As drogas de alivio sintomático e as drogas modificadoras da doença.

Drogas de alívio sintomático são medicamentos que auxiliam no controle da doença, mas não bloqueiam a sua evolução, nem impedem o desenvolvimento das suas complicações.   Drogas como anti-inflamatórios não hormonais e a cortisona tem seu uso historicamente correlacionado ao tratamento da AR num enredo fascinante que envolve o próprio desenvolvimento da indústria farmacêutica e alguns prêmios Nobel.

São medicamentos que podem ser bastante úteis de forma pontual por tempo limitado, principalmente pelo fato de agirem de forma rápida. No entanto quando usados inadvertidamente possuem efeitos colaterais importantes devendo ser usados de forma limitada, controlada e nunca como a única opção de tratamento.

Em outras palavras eles são um auxílio no controle dos sintomas, mas não o tratamento da AR propriamente dita.

As drogas modificadoras da doença são aquelas que conseguem impedir o avanço da doença e não apenas controlar seus sintomas. Em outras palavras, são os medicamentos que colocam a doença em remissão. Estes medicamentos pertencem á classe dos imunossupressores, pois tem como objetivo exatamente controlar a imunidade alterada de uma doença autoimune.  São medicamentos de uso continuo e, em geral com um perfil de tolerabilidade bastante favorável.  Em outras palavras, são medicamentos que, em geral não provocam efeitos colaterais graves, mas, ainda assim precisam ser utilizados sob a orientação médica e controle regular.

Nas últimas décadas o tratamento da AR sofreu uma verdadeira revolução graças exatamente a estes medicamentos.  Hoje existe uma grade variedade de opções muito eficientes, cada qual com suas peculiaridades.

 

De uma forma sintética estes medicamentos podem ser divididos em três classes de drogas.

  • Drogas modificadoras da doença tradicionais que são imunossupressores também utilizados em outras doenças autoimunes. São drogas de uso oral cada qual com um esquema de dosagem (por exemplo, drogas que são tomadas uma vez por semana ou drogas de uso diário).
  • Agentes biológicos que é um grupo crescente de drogas (com nomes complicados) em uso nos últimos 20 anos. Alguns destes medicamentos foram desenvolvidos especialmente para o tratamento da AR, outros já eram utilizados em outras indicações e se mostraram muito úteis também no tratamento da AR. Estes medicamentos são utilizados via injeções endovenosas ou subcutâneas. Aqui também a periodicidade de uso varia muito de medicamento para medicamento.
  • Um novo grupo de medicamentos, também de uso oral, são os inibidores da janus kinase.

 

As drogas modificadoras da doença são de uso continuo por um tempo indeterminado. Durante o tratamento pode ser necessário ajustar doses ou trocar de medicamentos. É altamente recomendável que pacientes conheçam as vantagens e desvantagens de cada opção e que compartilhem com o médico na escolha da melhor opção terapêutica.

 

MENSAGENS CHAVE:

1-   AR é uma doença crônica autoimune.

2-   Dor e inchaço nas articulações é o sintoma mais típico da doença.

3-   A confirmação do diagnóstico depende de conhecimento especializado.

4-  Sem tratamento a doença é progressiva.

5-  O tratamento é altamente eficiente no controle da doença.