A artrite psoriática é uma forma de artrite inflamatória associada com a presença de psoríase cutânea. Psoriase é uma doença cutânea autoimune caracterizada por placas vermelhas e descamativas.  A artrite psoriática é a doença articular que ocorre em cerca de 15% a 20% dos pacientes com psoríase. Esta doença já foi considerada como uma variante da artrite reumatoide, mas hoje sabemos que se tratada de uma doença distinta.

Esta forma de artrite pode afetar qualquer articulação. Acomete homens e mulheres. Mais frequentemente ela se inicia entre os 30 e 50 anos de idade, mas existem casos de início na infância ou em idosos. Sem tratamento, a inflamação articular persistente pode causar lesões articulares permanentes. Felizmente existem tratamentos muito eficientes para um controle adequado da doença.

Em geral a doença de pele aparece muito tempo antes das manifestações articulares. Ainda assim, alguns pacientes tem um quadro cutâneo muito leve que passa despercebido levando ao diagnóstico da artrite junto ou mesmo antes do diagnóstico dermatológico.

Como o quadro clínico é muito variado, a doença pode ser confundida com várias outras ou ficar sem diagnóstico, portanto a prevalência da doença no Brasil e no resto do mundo é provavelmente sub-estimada em cerca de 1 a 2 casos para cada 1000 habitantes.

A causa artrite psoriática não é totalmente conhecida, mas existe uma influência genética bem conhecida já que 40% dos portadores da doença tem um parente também afetado por psoríase ou artrite psoriática. Além desta tendência genética existem outros fatores desencadeadores não totalmente identificados, como algumas infecções. No entanto é importante compreender que a artrite psoriática não é uma doença infecciosa ou contagiosa.

 

Quais são os sintomas da artrite psoriática?

A psoríase cutânea tipicamente evoluiu com períodos variados de melhora e piora. O quadro de artrite também evolui, tipicamente com esta alternância de crises e períodos com sintomas mais leves.  Pode afetar qualquer articulação, às vezes várias articulações ao mesmo tempo incluindo as articulações dos pés, joelhos e mãos.  Um padrão bastante característico é chamado de dactilite (ou dedo em salsicha) quando o dedo acometido fica difusamente inchado.

O quadro clínico varia de formas bem leves acometendo apenas uma ou poucas articulações até uma forma rara e muito agressiva também chamada de artrite mutilans. As vezes o padrão de envolvimento das articulações imita o quadro da artrite reumatoide (muitas articulações ao mesmo tempo), outras vezes o envolvimento predomina só nas articulações distais dos dedos das mãos imitando a artrose (osteoartrite). Outros pacientes, ainda, tem um quadro que envolve a coluna e a articulação sacroilíaca de forma semelhante ao observado na espondilite anquilosante.

A articulação afetada tipicamente fica inchada, quente e vermelha, particularmente pela manhã, melhorando com os movimentos. Sem tratamento adequado a doença pode evoluir com deformidades importantes e incapacidade funcional.

Como foi dito acima, o padrão da doença varia muito de paciente para paciente. Tradicionalmente a doença tem sido classificada, de acordo com este padrão de acometimento, em vários subtipos diferentes:

  • Artrite das pequenas articulações distais das mãos (quadro semelhante ao da artrose) muitas vezes associada à psoríase das unhas
  • Artrite de pequenas e grandes articulações envolvendo poucas articulações de forma assimétrica (esta é a forma mais típica da doença)
  • Artrite simétrica de várias articulações (quadro semelhante ao da artrite reumatoide)
  • Envolvimento das articulações sacro-ilíacas e da coluna (quadro semelhante ao da espondilite anquilosante) manifestada por dor lombar ao acordar, melhorando com o movimento
  • Artrite mutilante (forma mais rara e bastante destrutiva da doença)

Esta classificação é meramente didática, já que o quadro pode mudar com o decorrer do tempo. Ainda assim ela é útil para lembrar os médicos dessas possibilidades auxiliando assim no diagnóstico. Além das articulações, os tendões próximos também são frequentemente acometidos levando ao aspecto de “dedo em salsicha” bastante sugestiva da doença.

Existem vários tipos de lesões de pele características da psoríase. Lesões descamativas e avermelhadas são as mais típicas e podem acometer pequenas áreas do corpo ou grandes regiões ao mesmo tempo.  Alguns pacientes tem lesões limitadas ao couro cabeludo e outros tem lesões mais ou menos típicas nas unhas.

Além da pele e do sistema ósteo-articular o olho é o órgão mais frequentemente envolvido na doença com quadros de uveite ou conjuntivite inflamatória.

 

Como é feito o diagnóstico da artrite psoriática?

O diagnóstico da artrite psoriática é basicamente clínico. Não existem alterações laboratoriais características mas o reumatologista utiliza um conjunto de dados clínicos, laboratoriais e de exames de imagem para compor o diagnóstico definitivo.

O fator reumatoide, frequentemente solicitado é tipicamente negativo, ao contrário do observado na artrite reumatoide. Porém este dado não é específico. Até 10% dos pacientes com artrite psoriática podem ter o fator reumatoide positivo enquanto que uma parcela de portadores de artrite reumatoide tem o exame negativo. O médico geralmente solicita exames como a velocidade de hemossedimentação e a dosagem da proteína C reativa que refletem apenas a intensidade da inflamação.

Exames de imagem (radiografias, ultrassom e outros exames mais sofisticados) podem demonstrar, no decorrer da doença, algumas alterações que podem ser mais ou menos característicos da doença auxiliando assim o diagnóstico.

 

 Qual o tratamento da artrite psoriática?

Hoje em dia, existem tratamentos eficientes, tanto para a artrite psoriática como para a própria psoríase cutânea. O tratamento ideal varia muito em função de questões individuais.

Alguns pacientes não necessitam de tratamento algum exceto antiinflamatórios e analgésicos por curtos períodos de tempo. No entanto, a maioria dos pacientes necessita de um tratamento mais persistente incluindo algum tipo de droga imunomoduladora tradicional ou novos medicamento biológicos.

O tratamento deve ser multidisciplinar envolvendo o dermatologista, reumatologista, fisioterapeuta entre outros. Abordaremos aqui o tratamento das formas com envolvimento articular e não as formas em que existe apenas o envolvimento da pele (psoríase cutânea).

Anti-inflamatórios não hormonais costumam ser os primeiros medicamentos utilizados no tratamento da artrite psoriática. Estes medicamentos conseguem controlar formas leves a moderadas da doença, mas devem ser usados com cuidado em pessoas com mais de 50 anos de idade. Efeitos colaterais gástricos, renais e cardiovasculares devem ser monitorados pelo médico e paciente.

Casos envolvendo um maior número de articulações ou que não responderam adequadamente ao uso de anti-inflamatórios têm maior chance de desenvolver uma forma agressiva e progressiva da doença. Estes pacientes devem passar a usar alguma das drogas chamadas de “drogas modificadoras da doença (DMARDs)” . Existem várias opções de DMARDs, tanto medicamentos mais tradicionais como agentes biológicos.  A opção do tratamento ideal depende obviamente se há necessidade de melhorar sintomas articulares, cutâneos ou ambos. Depende também de fatores individuais como acesso aos medicamentos, doenças coexistentes, etc.

Entre os chamados DMARDs tradicionais, os mais usados na artrite psoriática são o Metotrexato a Leflunomida e a Ciclosporina.  Cada qual tem suas vantagens e desvantagens.

Quando não existe uma boa resposta aos DMARDs tradicionais, ou quando existem efeitos colaterais indesejáveis, toda uma nova gama de medicamentos pode ser usada. São os chamados medicamentos biológicos.  Existem várias drogas diferentes desta classe de medicamentos. Cada qual com sua forma de administração, vantagens e desvantagens podendo ser utilizados isoladamente ou em associação com algum dos DMARDs tradicionais.

Além do tratamento medicamentoso, pacientes com dificuldades articulares podem necessitar de acompanhamento fisioterápico e, eventualmente, uso decalçados e palmilhas especiais bem como outro tipo de apoio de terapia ocupacional. Alguns casos podem precisar de cirurgias para correção de deformidades ou colocação de próteses articulares.

 

Orientações para vida diária

A artrite psoriática é uma doença crônica. Isto significa que o paciente deve manter um seguimento regular com seu médico.  O tratamento precoce é extremamente importante para evitar a evolução da doença e as deformidades, porém nem todos os pacientes necessitam de tratamento agressivo e continuo.  O paciente deve conhecer sua doença e os medicamentos que está utilizando para evitar associações de medicamentos contra indicadas e controlar regularmente possíveis efeitos colaterais.

A imensa maioria dos casos evolui com uma vida normal. Exercícios físicos podem e devem ser realizados com a devida orientação médica nos casos com alguma articulação ativamente envolvida ou com deformidades. Gestação e amamentação podem ser programadas com o devido cuidado para evitar uso de medicamentos tóxicos para o feto.